segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Tokio

A alucinante e densamente povoada capital do japão absorveu por inteiro a cultura consumista ocidental e deu-lhe uma dimensão própria. Em Tóquio, uma cidade com 27 milhões de habitantes, tudo se vende e tudo se compra. A população jovem, completamente rendida às regras da moda, desfila pelas cintilantes e sobrelotadas ruas como que “fardada” com as últimas criações dos estilistas e equipada com as mais recentes novidades (e inutilidades) tecnológicas.
Com máquinas de vendas automáticas a
multiplicarem-se por todo o lado, uma ilha artificial com dezenas de centros comerciais e uma imensidão de lojas psicadélicas e mega-stores das principais marcas internacionais, as tentações da extravagante e imparável Tóquio são impossíveis de contornar. Os exploradores cosmopolitas do século XXI podem desvendar as delícias e os segredos desta grande metrópole nos seus incontáveis bares de karaoke, nos cabarets, no red light district de Kabukicho, nos sushi bars e, como não poderia deixar de ser, no delírio consumista que faz parte do ambiente
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Ritmos alucinantes
Desde o final da Segunda Grande Guerra que o ritmo alucinante caracteriza o cenário urbano de Tóquio, que mais parece uma cidade com uma missão a cumprir, ansiosa por chegar a algum lado e por provar algo. O tal andamento frenético funde-se de forma quase natural com a curiosidade inata da população pela novidade, atingindo todos os dias o seu clímax. No entanto, não deixa de ser intrigante que esta cidade futurista, sempre um passo à frente das tendências, não seja capaz de se livrar do seu passado. É, por isso, fácil depararmo-nos com cenários algo contraditórios à medida que percorremos as ruas inundadas por neons, como os tradicionais e milenares ukiyo-e, blocos de madeira com imagens gravadas de mulheres nas suas lides femininas, não faltando sequer cenas alusivas aos guerreiros shogun, misturadas com actuações de kabuki (antiga forma de representação teatral japonesa). Toda esta miscelânea de ambientes faz parte da actual cultura japonesa que percorre o mundo na forma de duas das suas mais populares artes, a banda desenhada (manga) e os desenhos animados (anima).
Um verdadeiro melting pot de culturas, hábitos e fantasias atravessa todas as gerações. Diferentes estilos de vida, arte e entretenimento estão sempre patentes e em completa ebulição em Tóquio – a cidade nunca pára ou descansa. Cafés, bares, salões de beleza e lojas abraçam e absorvem o que de novo aparece nesta metrópole que interpreta de uma maneira muito própria o conceito de novidade. Aqui tudo é efémero. Num lapso de tempo quase imperceptível o “in” passa à categoria de “out of fashion”: por exemplo, os bares situados na zona de Nakameguro, inaugurados no ano passado com todo o alarde possível, são agora arrasados por quem dita as novas modas, e que num ápice encontrou outras paragens. Assim como as cerejeiras em flor (árvore sagrada para os japoneses), também as correntes da moda em Tóquio duram breves semanas – a cidade perde pouco tempo a olhar na mesma direcção
Desafio ao sistema
Por detrás de todo este cenário espreitam os arranha-céus de Shinjuku, as extravagantes construções de Odaiba e as pequenas ruas e ruelas atrás da antiga escola de Asakusa. É caso para se dizer que Tóquio tem cantos e esquinas para todas as tribos urbanas. Os tão típicos computer nerds que agora pedem contas a Akihabara (o apelidado electric district que ganhou fama aquando do boom das novas tecnologias) não serão com toda a certeza encontrados a passear-se com a fashion people de Harajuku (um dos bairros da moda, sempre inundado de excêntricos adolescentes viciados no consumo) ou com os músicos que pululam pela linha ferroviária de Sobu. Todos têm o seu canto e as regiões devidamente demarcadas são respeitadas por cada uma das tribos.Na JR Shinjuku Station – uma das mais concorridas estações ferroviárias do mundo, com uma afluência de 760 mil passageiros por dia –, à espera de um dos habitualmente sobrelotados comboios, vemos faces como que moribundas de assalariados a envergar fatos sem estilo ou forma, lado a lado com adolescentes em idade escolar vestidas à marinheiro, e também com a curiosa tribo urbana que saltou a fronteira de Aoyama e das suas lojas underground e que agora se passeia pela cidade com as suas designer t-shirts. Refira-se que os sons musicais, os gadgets electrónicos, as animações e as revistas que dão fama a Tóquio vêm exactamente deste universo mais periférico.Por enquanto, o que é entendido por cool mantém-se à margem dos escalões do poder estabelecido, vivendo-se uma liberdade pouco usual – e uma harmonia de certa maneira consensual – num país desde sempre orientado por rígidas convenções sociais. Aliás, até quando as autoridades reabriram vias interditas à circulação automóvel, o estilo em tudo ficcionado de Harajuku, uma das actuais “passerelles” da moda desta cidade, recusou-se a desaparecer. É aqui que a paixão de Tóquio pela fantasia ganha vida, com raparigas “mascaradas” com roupas ao estilo gótico ou a envergar uniformes de enfermeiras com realísticas gotas de sangue a completar a sinistra indumentária.

Na capital do Japão, as modas não passam de um mero jogo, talvez uma forma de escape à estética tradicional, ou mesmo um completo desafio ao status quo.
 
                                                                       
                                                             Tribos urbanas
 Em Tóquio, a chamada street fashion é sinónimo de uma explosão de cores. O minimalismo talvez possa vingar nos studio apartments de Jingumae, mas, nas ruas, dominam as gentes de cabelos modelados, com peles e olhos coloridos por sombras brilhantes. Talvez como forma de reclamar ou celebrar a diferença, rapazes com faixas de cabelo louro, moças com sapatos fluorescentes e outros tantos adolescentes com grossas linhas de rímel nos olhos avançam em passo acelerado em direcção às estações de metropolitano, sempre agarrados ao seu telemóvel e a enviar mensagens escritas para meio mundo

 Até há bem pouco tempo, as japonesas deliciavam-se nos salões de beleza a oxigenar e a platinar os cabelos, com uma passagem obrigatória pelas tão na moda sessões de solário, numa vã tentativa de atingirem um nada natural bronzeado ao estilo californiano, sendo coloquialmente apelidadas de black faces. Acontece que, actualmente, as white faces é que passaram a estar na moda, recorrendo as adolescentes a técnicas de embranquecimento da pele. Ou seja, o que está agora in é o look de geisha…






























                                                                          You’ve got the look…O delírio do comércio e da concorrência assegura que todos os dias novos caprichos sejam lançados para o faminto mercado de Tóquio – a Meca do consumismo.
       Durante os fins-de-semana, cintilantes armazéns onde tudo se vende, distribuídos desde Ginza (bairro tradicional onde se situa o palácio imperial) a Shibuya (o bairro onde surgem as últimas tendências da moda), espalham nos seus expositores artigos mirabolantes, em que não faltam tatuagens de todas as cores, formas e feitios, extensões de pestanas, produtos europeus importados e outras curiosidades. É a estes locais que afluem os que seguem as novas tendências. Vêm aqui para comparar os novos produtos entretanto lançados e, quem sabe, criar uma nova moda. Laforet, uma megaloja na Avenida Meiji (em Harajuku) cada vez mais in e que é invadida diariamente pelas adolescentes de Tóquio como se se tratasse da sua própria casa, é onde as crises de stress desta juventude alucinada são curadas.

Marcas como Gucci ou Prada vendem mais em Tóquio do que qualquer outra cidade do mundo, talvez devido a este estilo de vida condicionado pela febre das compras, que leva a população a vangloriar-se mais pela moda que ostenta do que pelos objectivos de vida, e parecendo mais interessados na recente colaboração entre a marca Louis Vuitton e o artista plástico Takashi Murakami do que com o novo frigorífico que faz falta em casa

Numa eventual viagem a Tóquio, a lista de costureiros que merecem atenção é extensa. Desde o muito em voga urban cowboy Mihara Yasuhiro a Chiyuki Sugimoto pela sua visão romântica da moda, passando por Toshikazu Iwaya, com a arrebatadora elegância da sua marca Dress Camp. Para quem prefere o look mais retro, ao estilo dos anos 80, aconselha-se Malkomalka, uma marca criada por Yuri e Chika, dois jovens diplomados pela London St. Martin’s College of Art.
Com roupas ao estilo teenager, a loja Candy Stripper é um bom começo para uma odisseia consumista nas ruas de Tóquio – fica situada num beco escuro onde também pode encontrar outros estabelecimentos da moda. Neste local estranho poderá admirar dezenas e dezenas de adolescentes japonesas que mais parecem autómatos programados para o consumo, todas elas car-regadas de sacos onde enfiaram os últimos gritos da moda… que pode durar míseros segundos.


Liberdade absoluta

Os bares de Tóquio são considerados os centros de negócio. Aqui, o karaoke está entre o irónico e o tremendamente sério – uma maneira que os locais encontraram para derrubar qualquer inibição, entreterem-se ou apenas darem nas vistas… ou tudo ao mesmo tempo.

A.I.P. é um dos melhores locais para ver e ser visto – a música é psicadélica, a decoração é em cabedal preto, completamente kitsch, e o serviço é péssimo, mas o que importa?! A contrastar temos o Tantra. Bastante difícil de encontrar – a sua porta tem apenas um “T” inscrito –, o seu interior mais parece um cenário saído de uma qualquer fantasia das arábias, com pilares e estátuas eróticas iluminadas por velas. Um local indicado para o relax… Numa onda ainda mais kitsch, ambiente afinal tão típico em Tóquio, dirija-se ao Gmartini, onde pode saborear um cocktail sentado num sofá de pele de zebra ou lançar-se à luxúria numa sala privada toda forrada de carpete que foi baptizada como… the shag room (o quarto de pelúcia).

Quem anda em busca de noites divertidas tem de passar pelo Kaga-Ya Bar, onde a lista de cocktails é nada mais do que a lista de todos os países do mundo. Chegado ao local, peça o que quiser ao barman – ou “master”, como é conhecido em Tóquio – e não se admire se o vir a desaparecer pelo armário guarda-louça adentro. Passados poucos minutos estará de volta a envergar uma qualquer vestimenta que esteja de acordo com o cocktail/país que escolheu. Mas as extravagâncias não se ficam por aqui: a sua bebida muito provavelmente será servida num copo que tem de ser mugido (isso mesmo, mugido!!!) ou num prato de sopa. Resultado: a noite avança, o teor de álcool vai subindo e o mais certo é que acabe a envergar uma das muitas indumentárias do “master”. Aproveite, já que só aqui poderá fazer estas figuras nada embaraçosas e no mínimo hilariantes, não fosse o prato forte desta cidade fazer com que os stressados homens de negócios deixem libertar a criança que está aprisionada no seu subconsciente… seja lá o que isto significa!

Os sons do rock gótico têm exercido uma forte influência na vida recente da metrópole, com especial destaque para o Paranoia Café, comandado pelo famoso Crazy George, um antigo maquilhador que participou na película thriller “Dawn of the Dead”, um filme de culto da nova geração em que uma horda de mortos-vivos tenta conquistar o mundo. Neste peculiar café-bar pode consultar a “ementa”, onde, além dos pratos e das bebidas, está à escolha do cliente uma enorme variedade de golpes e cicatrizes. Poderá então optar por encomendar uma caracterização de graça para se ambientar. Apesar de ser um pouco doentio, não deixa de ser engraçado e very Tokyo

lojas abertas 24 sobre 24 horas, máquinas automáticas por todo o lado e os famosos hotéis cápsula (em que os quartos apenas têm espaço para uma cama de solteiro, existentes no Japão desde o início dos anos 90), múltiplos bares de karaoke, jovens empoleiradas em botas com saltos de plataforma e de cabelos tingidos de todas a cores… A ousadia é uma espécie de imagem de marca da juventude de Tóquio, uma cidade que parece saída de um cenário de ficção científica algo surreal
ou se já o paraíso absoluto bom pelo menos para mim e

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